PESSOA NA 1ª PESSOA

Descrição

1) VISITAS DRAMATIZADAS EM LISBOA À VOLTA DO UNIVERSO FERNANDO PESSOA Estas visitas dramatizadas serão realizadas na cidade de Lisboa tendo como referência a vida, os percursos, os hábitos e o legado do Fernando Pessoa. Serão realizadas por actores que irão interpretar o personagem em causa, respeitando o figurino e explorando o personagem do Pessoa e dos seus heterónimos. Este projecto inserese numa vertente de turismo cultural e tem como públicoalvo tanto os turistas que diariamente visitam Lisboa, como o público português e a própria população da Grande Lisboa. O Percurso irá abranger as zonas da Baixa Lisboeta nomeadamente Praça do Comercio, Rua Augusta, Largo do Teatro de S. Carlos, Basílica dos Mártires e Café a Brasileira no Chiado, percurso do eléctrico 28 entre o Largo Camões e Campo de Ourique e a Casa Museu Fernando Pessoa em Campo de Ourique. Serão realizadas em português e inglês, durante o dia. Estas visitas permitirão dar a conhecer estes espaços sobre o prisma e o olhar desta importante figura da literatura portuguesa e em simultâneo ter contacto com as vicissitudes, obra, textos literários, revistas e referências do Pessoa. Desta forma os participantes poderão ter um contacto pessoano com Lisboa, essa Lisboa onde ele trabalhou, viveu, escreveu, passeou e que também foi fundamental para a sua obra. 2) PERCURSO A REALIZAR EM LISBOA: As visitas dramatizadas serão diurnas, apontando inicialmente para as 10h e 15h como referência de horas a que se iniciam. O percurso de cada visita é o seguinte: ? Martinho da Arcada Recepção do grupo de participantes ? público Café 1º momento, poema ?Eros e Psique?, Fernando Pessoa (Passagem pela Rua Augusta subida ao Largo de S. Carlos) ? Largo do Teatro de S. Carlos Em frente à casa onde nasceu, poema ?À minha Querida Mamã?, Chevalier de Pas ? Basílica dos Mártires no Chiado (local de baptismo) ? Café a Brasileira Mostra fotografias (de casas onde já morou, da família, da tipografia que criou) Aborda aspectos da sua vida pessoal e profissional, os heterónimos Mostra revistas onde publicou como a Orpheu Lê ?Carta de Amor a Ofélia? ? Eléctrico 28 no sentido de Campo de Ourique (percurso em electrico entre o Largo de Camões e Campo de ourique) ? Casa Fernando Pessoa (visitam a casa) ?A minha casa? ?Tabacaria?, Álvaro de Campos Abordagem aos interesses místicos e astrológicos de Pessoa ?Iniciação?, Fernando Pessoa Os actores estarão durante todo o tour em personagem, dialogando na 1ª pessoa. Mapa das Visitas dramatizadas com fotografias dos locais 1. Martinho da Arcada 2. Largo do Teatro de S. Carlos 3. Basílica dos Mártires no Chiado 4. Café a Brasileira 5. Eléctrico 28 6. Casa Fernando Pessoa 3) POEMAS SELECCIONADOS: Tabacaria, Álvaro de Campos À minha querida Mamã, Chevalier de Pas Carta de amor a Ofélia, Fernando Pessoa Todas as cartas de amor são ridículas?, Alvaro de Campos Eros e Psique, Fernando Pessoa Iniciação, Fernando Pessoa 4) DADOS BIOGRÁFICOS ? O RETRATO POSSÍVEL DE FERNANDO PESSOA Aspectos físicos e psicológicos ?Era um homem magro, com uma figura esguia e franzina, media 1,73 m de altura. Tinha o tronco meio corcovado. O tórax era pouco desenvolvido, bastante metido para dentro, apesar da ginástica sueca que praticava. As pernas eram altas, não muito musculadas e as mãos delgadas e pouco expressivas. Um andar desconjuntado e o passo rápido, embora irregular, identificavam a sua presença à distância. ?Vestia habitualmente fatos de tons escuros, cinzentos, pretos ou azuis, às vezes curtos. Usava também chapéu, vulgarmente amachucado, e um pouco tombado para o lado direito. ?O rosto era comprido e seco. Por detrás de uns pequenos óculos redondos, com lentes grossas, muitas vezes embaciadas, escondiamse uns olhos castanhos míopes. O seu olhar quando se fixava em alguém era atento e observador, às vezes mesmo misterioso. A boca era muito pequena, de lábios finos, e quase sempre semicerrados. Usava um bigode à americana que lhe conferia um charme especial. Quando falava durante algum tempo e esforçava as cordas vocais, um dos seus pontos sensíveis, o timbre de voz alteravase, tornandose mais agudo e um pouco monocórdico. A modulação da passagem de um tom para o outro acabava por reduzir o seu volume vocal natural e o som então emitido ficava mais baixo e um pouco gutural, tornandose menos audível. ?Nos últimos dez anos de vida, talvez provocado pelo fumo dos oitenta cigarros diários, adquiriu um pigarrear característico, seguido de uma tosse seca. ?Embora não muito dado ao riso, Fernando Pessoa tinha uma certa ironia e algum humor, sobretudo se estava bem disposto, o que acontecia algumas vezes quando os amigos mais próximos o desafiavam para jantares. Curiosamente libertavase então da sua timidez e gesticulava de um modo mecânico e repetitivo, deixando escapar um riso nervoso, às vezes irritante. ?Apesar de conviver com os amigos, no fundo nunca deixou de ser um homem neurasténico, solitário e reservado, pouco dado a conversar com estranhos. No final da sua vida, a melancolia e uma exagerada angústia existencial predominavam. Daí a tendência para se isolar dos mais próximos e dos próprios familiares. O seu temperamento ansioso foi interpretado por alguns dos seus biógrafos como uma personalidade do tipo emotivo não activa. No fundo, era um tímido introvertido, dado a fortes instabilidades de sentimentos e de emoções. ?Dotado de um carácter bastante complexo, era, apesar de tudo, um homem simples com uma grande inteligência e de uma extrema sensibilidade... era reservado e não gostava falar de si nem dos seus problemas, protegendo o mais possível a sua privacidade. Terrivelmente supersticioso, tinha momentos em que se comportava de uma forma enigmática e misteriosa, a que decerto não seria alheia a sua velha atracção pelo oculto, o esotérico e a própria relação metafísica que tinha com a vida.? É considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa e da Literatura universal Ao longo da vida trabalhou em várias firmas comerciais de Lisboa como correspondente de língua inglesa e francesa. Foi também empresário, editor, crítico literário, jornalista, comentador político, tradutor, inventor, astrólogo e publicitário, ao mesmo tempo que produzia a sua obra literária em verso e em prosa. Como poeta, desdobrouse em múltiplas personalidades conhecidas como heterónimos, objecto da maior parte dos estudos sobre sua vida e sua obra. ? REFERÊNCIAS CRONOLÓGICAS ? Nasceu a 13 de Junho de 1888, no quarto andar direito do n.º 4 do Largo de São Carlos, em frente ao Teatro de S. Carlos (Ópera de Lisboa). ? O pai, Joaquim de Seabra Pessoa, natural de Lisboa, era funcionário público do Ministério da Justiça e crítico musical do Diário de Noticias. ? A mãe, D. Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa, era natural dos Açores, mais propriamente, da Ilha Terceira. ? Viviam com eles a avó Dionísia, doente mental, e duas criadas velhas, Joana e Emília ? Fernando António foi baptizado em 21 de Julho na Basílica dos Mártires, no Chiado, tendo por padrinhos a Tia Anica (D. Ana Luísa Pinheiro Nogueira, tia materna) e o General Chaby. ? Com oito meses, interessase já pelas letras do alfabeto. Começa a escrever com quatro anos. ? Às cinco horas da manhã de 24 de Julho de 1893, o pai morreu, com 43 anos, vítima de tuberculose. Fernando tinha apenas cinco anos. O irmão Jorge viria a falecer no ano seguinte, sem completar um ano. A mãe vêse obrigada a leiloar parte da mobília e mudase com a avó louca e as duas criadas para uma casa mais modesta, o terceiro andar do n.º 104 da Rua de São Marçal. (Príncipe Real). ? Foi também neste período que surgiu o primeiro heterónimo de Fernando Pessoa, Chevalier de Pas. ? Ainda no mesmo ano, escreve o primeiro poema, um verso curto com a infantil epígrafe de À Minha Querida Mamã. ? A mãe casase pela segunda vez em 1895 por procuração, na Igreja de São Mamede, em Lisboa, com o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban (África do Sul). ? Parte para a África do Sul com a mãe. Acompanhaos o tioavô Cunha. ? Em virtude do casamento de sua mãe passa a maior parte da sua juventude em África de Sul e recebe educação inglesa. ? Pessoa desde cedo demonstra talento para a literatura. ? Faz a instrução primária na escola de freiras irlandesas da West Street, onde fez a primeira comunhão, e percorre em dois anos o equivalente a quatro. ? Em 1899 ingressa no Liceu de Durban, onde permanecerá durante três anos e será um dos primeiros alunos da turma. ? No mesmo ano, cria o pseudónimo Alexander Search, através do qual envia cartas a si mesmo. ? No ano de 1901, é aprovado com distinção no primeiro exame Cape School High Examination e escreve os primeiros poemas em inglês ? Em 1901 parte com a família para Portugal, para um ano de férias. Em Lisboa, mora com a família em Pedrouços e depois na Avenida de D. Carlos I, n.º 109, 3.º Esquerdo. ? Mantém contacto com a literatura inglesa através de autores como Shakespeare, Edgar Allan Poe, John Milton, Lord Byron, John Keats, Percy Shelley, Alfred Tennyson, entre outros. ? Volta para África e matrículase na Durban Commercial School, escola comercial de ensino nocturno, enquanto de dia estuda as disciplinas humanísticas para entrar na universidade. ? Em 1903, candidatase à Universidade do Cabo da Boa Esperança. Na prova de exame de admissão, não obtém boa classificação, mas tira a melhor nota entre os 899 candidatos no ensaio de estilo inglês. Recebe por isso o Queen Victoria Memorial Prize («Prémio Rainha Vitória»). ? Um ano depois, ingressa novamente na Durban High School, onde frequenta o equivalente a um primeiro ano universitário. ? Lê os clássicos ingleses e latinos. Escreve poesia e prosa em inglês, surgindo os heterónimos Charles Robert Anon e H. M. F. Lecher. ? Encerra os seus bem sucedidos estudos na África do Sul com o «Intermediate Examination in Arts», na Universidade, obtendo uma boa classificação. ? Não tendo obtido a bolsa para prosseguir os estudos universitários em Inglaterra, regressa definitivamente à capital portuguesa, sozinho, em 1905. Vai viver com a sua tiaavó na Rua de S. Bento. ? Em 1906 termina o ano escolar sem entusiasmo. No ano lectivo seguinte, muda de orientação e decide seguir um curso de Filosofia. ? Em Agosto de 1907, morre a sua avó Dionísia, deixandolhe uma pequena herança, com a qual monta uma pequena tipografia, na Rua da Conceição da Glória, 384.º, (junto à Rua da Glória) sob o nome de «Empreza Ibis ? Typographica e Editora ? Officinas a Vapor», que rapidamente vai à falência. O Chefe do governo, João Franco, instaura a ditadura. É a partir desta altura que Pessoa começa a apaixonarse pela política portuguesa. Odeia João Franco. ? 1908. Arruinado no próprio ano que faz vinte anos, recusa porém ofertas e emprego bem remuneradas. Dedicase à tradução de correspondência comercial em inglês e francês num escritório de importações e exportações da Baixa, bairro onde se concentram as actividades de negócios e onde a partir de agora se desenrolará essencialmente a sua vida diurna. Vai exercer essa profissão em várias casas comerciais até morrer. Instalase num quarto mobilado na Rua da Glória, depois noutro no Largo do Carmo. Vai viver só durante doze anos, até ao regresso da mãe, mudando muitas vezes de residência. A 1 de Fevereiro dáse o assassínio do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro na Praça do Comércio. Subida ao trono de D. Manuel II, com dezoito anos de idade. ? A 5 de Outubro de 1910 dáse a revolução e proclamação da República Portuguesa. Exílio da família real. Governo provisório presidido pelo escritor Teófilo Braga. Separação da Igreja e do Estado. Expulsão dos Jesuítas. Fundação da revista ?Águia?, que será o órgão do movimento da ?Renascença portuguesa? dirigida por Teixeira de Pascoaes. ? Inicia a sua actividade de ensaísta e crítico literário com o artigo «A Nova Poesia Portuguesa Sociologicamente Considerada», a que se seguiriam «Reincidindo?» e «A Nova Poesia Portuguesa no Seu Aspecto Psicológico» publicados em 1912 pela revista A Águia. ? Frequenta a tertúlia literária que se formou em torno do seu tio adoptivo, o poeta, general aposentado Henrique Rosa, no Café A Brasileira, no Largo do Chiado. (há duas brasileiras em locais diferentes, a 1ª já não existe) ? Aí encontra jovens poetas, entre os quais aquele que se vai tornar no seu grande amigo, Mário de SáCarneiro. ? 1913: os primeiros poemas esotéricos, AlémDeus e Abdicação. Escreve o seu primeiro poema erótico, Epithalamium. Pública na revista Águia o primeiro texto poético em prosa, Na Floresta do alheamento, apresentado como um fragmento do ?Livro do Desassossego?, em preparação. Pessoa vai trabalhar nesse livro toda a sua vida, sem poder acabálo. Irá atribuílo ao ?semiheterónimo? Bernardo Soares. Inicia a sua colaboração numa revista de teatro ? Mais tarde, já nos anos vinte, o seu café preferido seria o Martinho da Arcada, na Praça do Comércio, onde escrevia e se encontrava com amigos e escritores. ? 8 De Março de 1914, o ?dia triunfal? de sua vida. Num transe criador, vê aparecer nele o seu ?mestre?, o poeta pagão Alberto Caeiro, que escreve pela sua mão, os poemas do Guardador de rebanhos. Mudança de casa, continua a viver com a tia Anica. A 12 de Junho: Primeiras Odes de Ricardo Reis, segundo heterónimo pagão, discípulo de Caeiro. Sensivelmente na mesma altura, primeira grande Ode de Álvaro de Campos, outro discípulo de Caeiro: a Ode Triunfal. Em Novembro a tia Anica sai de Lisboa. Mudase de novo, desta vez para um quarto mobilado. ? 1915: escreve o primeiro poema erótico em inglês, Antinous. Prepara com um grupo de amigos, entre os quais SáCarneiro e Almada Negreiros, o lançamento da revista literária Orpheu, causando algum escândalo e muita controvérsia. Aí Pessoa publicou em seu nome, bem como com o heterónimo Álvaro de Campos. 26 de Março: Lançamento do 1º número de Orpheu. Contém O Marinheiro e a Ode Triunfal. Nova mudança de casa, desta vez para um bairro um pouco mais afastado da Baixa. A 11 de Junho escreve a Saudação a Walt Whitman, onde presta homenagem àquele que, através de Caeiro, reconhece como seu mestre. A 28 de Junho sai o segundo número do Orpheu, que inclui Chuva Oblíqua e a Ode Marítima. 11 De Julho: partida de SáCarneiro, deprimido e falido. De Paris, recomeça a correspondência com o amigo. 13 De Setembro: a pedido de SáCarneiro, cujo pai financiara os dois números do Orpheu, Pessoa renúncia a publicar o terceiro número, apesar de já composto. Para um editor, traduz do inglês obras de Teosofia, o que reforça o seu interesse pelas doutrinas secretas. ? 1916: muda três vezes de casa durante este ano, sempre para bairros diferentes. Publicação das suas traduções de obras de teosofia. Interessase igualmente pela astrologia e chega a pensar fazer dela a sua profissão. Faz experiências de espiritismo. A 26 de Abril SáCarneiro matase em Paris, engolindo uma forte dose de estricnina. Tinha 25 anos. Pessoa fica muito transtornado. ? 1917: Nova mudança de casa. Em Novembro dáse a publicação do primeiro número da revista Portugal Futurista, contendo o Ultimatum de Álvaro de Campos. A revista é apreendida pela polícia. Não sairá mais nenhum número. ? 1918: Nova mudança, para um quarto mais próximo do centro da cidade. Com 30 anos, publica pela primeira vez na sua vida livros de versos: dois pequenos livros, contendo, um, os 35 Sonnets e o outro, Antinous. A 9 de Maio, Sidónio Pais é eleito presidente da Républica e assassinado em 14 de Dezembro na Estação do Rossio. Pessoa, que via nele o salvador da Pátria, fica profundamente afectado. ? 1919: Nova mudança, desta vez para bastante longe, para a periferia norte de Lisboa, Benfica. ? 1920: Em Janeiro apaixonase por Ofélia Queiroz, de 19 anos, secretária contratada pela sociedade comercial Felix, Valladas e Freitas, onde trabalha. Um dos patrões, Freitas, é primo de Pessoa. A 1 de Março escrevelhe a primeira carta de amor. ? Prevenido da chegada eminente da Mãe, dos irmãos e da irmã, aluga um andar na Rua Coelho da Rocha, nº 16, no bairro de Campo de Ourique, e aí se instala enquanto os aguarda. É nesse prédio, que hoje se tornou a casa Fernando Pessoa, que vai residir até morrer. A 15 de Outubro, a braços com uma violenta crise de depressão, decide ir tratarse numa clínica psiquiátrica, mas acaba por desistir. A 29 de Novembro envia a Ofélia uma carta de rompimento. ? 1921: Cria juntamente com alguns amigos uma casa editorial e comercial, ?Olisipo? ? Em Outubro de 1924, juntamente com o artista plástico Ruy Vaz, Fernando Pessoa lançou a revista Athena, publicando poesias de Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro, bem como do ortónimo Fernando Pessoa. ? 1925: Começa a ser reconhecido; o jovem poeta José Régio, numa tese para um diploma de estudos superiores de Letras, apresentao como o maior poeta português contemporâneo. ? 1927: Criação em Coimbra por um grupo de jovens escritores, da revista Presença, dirigida por João Gaspar Simões e José Régio, órgão daquilo a que se vai chamar o 2º modernismo português. Publica na Presença um dos seus poemas e um texto de Álvaro de Campos. ? 1928: Campos escreve Tabacaria, poema do fracasso e da resignação desesperada. Escreve vários poemas de inspiração nacionalista mística que vão constituir a Mensagem. ? 1929: Publicação em revista de dois fragmentos do Livro do Desassossego, composto por Bernardo Soares. Por intermédio do jovem poeta Carlos queiroz, sobrinho de Ofélia e amigo de Pessoa, a quem ele enviou a sua fotografia a beber um copo ?em flagrante delitro?, reencontra a sua antiga namorada. Fala a Ofélia do seu desejo de ir viver para o campo, para melhor se consagrar à sua obra. Pensa em casar com ela, mas ?resta saber se o casamento e o lar são coisas que se coadunem com a minha vida de pensamento?. Recebe um livro do ?mago? inglês Aleister Crowley, comprado por assinatura, e envialhe os seus poemas ingleses. ? 1930: Última carta a Ofélia que termina com um ?até logo?. Desta vez rompe sem explicações. Recebe Crowley no Porto de Lisboa. Monta uma partida juntamente com ele, em que Crowley desaparece misteriosamente, atirandose ao mar dos rochedos de Cascais. Há um inquérito da polícia. A Scotland Yard é alertada. ? 1931: Publicação na Presença das Notas à memória do meu mestre Caeiro, de Álvaro de Campos. Escreve a Autopsicografia, a sua ?Arte Poética?; nela define o poeta como aquele que ?finge? os sentimentos expressos, mesmo quando os sente realmente. Publicação em revista de cinco fragmentos do Livro do Desassossego. ? 1932: Publicação na Presença de um novo fragmento do Livro do Desassossego e do poema esotérico Iniciação. Salazar é nomeado presidente do Conselho de Ministros. É rejeitada a sua candidatura ao posto de bibliotecário do Museu de Cascais. ? 1933: Pessoa atravessa uma grave crise de depressão. Salazar institui o Estado Novo. Publica Tabacaria na revista Presença. Escreve o poema erótico Eros e Psique. Campos escreve o poema Dactilografia, em que exprime a ideia de que temos todos duas vidas, a verdadeira, que é sonhada, e a falsa, que é vivida. ? 1934: Publicação na Presença de Eros e Psique, precedido de um extracto do ritual iniciático dos Templários, sobre a superação das contradições. Publicação da Mensagem (novo título que veio substituir o de Portugal). Apresenta a sua candidatura ao prémio de poesia organizado pelo Secretariado da Propaganda Nacional. Publicação do poema esotérico Natal noutro jornal. O Júri do Secretariado de Propaganda Nacional atribui o prémio à obra de um frade franciscano; a obra de Pessoa obtém o segundo lugar, devido ao seu volume insuficiente. ? 1935: Longa carta ao seu jovem amigo Casais Monteiro, poeta da equipa da Presença, em que conta em pormenor, mais de vinte anos depois, a experiência do ?dia triunfal? e a génese dos heterónimos. Nela define também a sua posição sobre o ocultismo e a iniciação. Nova carta a Casais Monteiro, onde se define como dramaturgo cujas diversas personalidades dialogam entre si. Apresenta também a heteronímia como uma exploração do seu próprio ser. ?Não evoluo, viajo.? De Janeiro a Março, estado depressivo, doença e cansaço. Bebe cada vez mais, vinho e aguardente. Publicação num jornal diário de um violento panfleto contra a proposta de um depurado salazarista de proibir as ?sociedades secretas?; nele toma a defesa da FrancoMaçonaria. Esta iniciativa assinala o seu rompimento com o salazarismo. 29 de Março ? 1º poema satírico contra Salazar. 30 de Março ? redige a sua nota biográfica, onde se apresenta como ?conservador antireaccionário?, ?cristão gnóstico? oposto ao catolicismo, membro da ordem dos Templários. 9 de Junho: O Governo organiza as ?Festas de Lisboa? para celebrar os ?santos de Junho? e conquistar assim as graças do povo; Pessoa escreve no mesmo dia, mas num espírito irreverente e corrosivo, três poemas sobre Santo António, São João e São Pedro. 29 de Julho: Escreve um poema antisalazarista 21 de Outubro: Poema de Campos ?Todas as cartas de amor são ridículas?? 30 de Outubro: decide não publicar mais nada em Portugal, para protestar contra o agravamento da censura. 26 de Novembro: violenta crise de cólicas hepáticas. 28 de Novembro: é internado no hospital de São Luís dos Franceses, no Bairro Alto. É tratado pelo primo, o Dr. Jaime Neves. Morre às 20 horas e 30 minutos. 2 de Dezembro às 11h: enterro no cemitério dos Prazeres, no jazigo de família, na presença de umas cinquenta pessoas. Em 1985, no cinquentenário da sua morte, mas no dia do seu nascimento a 13 de Junho, o corpo é trasladado para o claustro do Mosteiro dos Jerónimos, perto dos túmulos das duas outras glórias nacionais, Vasco da Gama e Camões. ? SOBRE A REVISTA ORPHEU Introduziu o movimento modernista em Portugal. Poetas como Fernando Pessoa, Mário de SáCarneiro, Almada Negreiros, e pintores como Amadeo de SouzaCardoso e Santa Rita Pintor reuniramse em torno duma revista de arte e literatura cuja principal função era agitar as águas, subverter, escandalizar o burguês e pôr todas as convenções sociais em causa: o próprio nome "Orpheu" não fora escolhido por obra do acaso Orpheu era o mítico músico grego que, para salvar a sua mulher Eurydice do Hades, teria de a trazer de volta ao mundo dos vivos sem nunca olhar para trás. E era essa metáfora que importava aos homens da Orpheu, esse não olhar para trás, esse esquecer, esse olvidar do passado para concentrar as atenções e as forças no caminho para diante, no futuro, na "edificação do Portugal do séc. XX" A recepção de Orpheu não foi pacífica, bem pelo contrário, desencadeando uma controvérsia pública que se propagou pela imprensa portuguesa da época. As críticas e comentários eram sobretudo jocosos, sendo os escritores ridicularizados e apontados como doidos varridos, sobretudo devido aos poemas «16», de Mário de SáCarneiro, e «Ode Triunfal», de Álvaro de Campos, um dos heterónimos de Fernando Pessoa. ? PESSOA E O OCULTISMO Fernando Pessoa interessavase pelo ocultismo e pelo misticismo, com destaque para a Maçonaria e a RosaCruz (embora não se lhe conheça qualquer filiação concreta em Loja ou Fraternidade dessas escolas de pensamento) O seu poema hermético mais conhecido e apreciado entre os estudantes de esoterismo intitulase "No Túmulo de Christian Rosenkreutz". Tinha o hábito de fazer consultas astrológicas para si mesmo (de acordo com a sua certidão de nascimento, nasceu às 15h20, tinha ascendente Escorpião e o Sol em Gémeos). Realizou mais de mil horóscopos. Desenhou o horóscopo dos seus heterónimos. ? AUTOBIOGRAFIA (intitulada no original "Fernando Pessoa", dactilografada e assinada pelo escritor em 30 de Março de 1935) FERNANDO PESSOA Nome completo: Fernando António Nogueira Pessoa. Idade e naturalidade: Nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires, no prédio n.º 4 do Largo de S. Carlos (hoje do Directório) em 13 de Junho de 1888. Filiação: Filho legítimo de Joaquim de Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira. Neto paterno do general Joaquim António de Araújo Pessoa, combatente das campanhas liberais, e de D. Dionísia Seabra; neto materno do conselheiro Luís António Nogueira, jurisconsulto e DirectorGeral do Ministério do Reino, e de D. Madalena Xavier Pinheiro. Ascendência geral: misto de fidalgos e judeus. Estado civil: Solteiro. Profissão: A designação mais própria será "tradutor", a mais exacta a de "correspondente estrangeiro" em casas comerciais. O ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação. Morada: Rua Coelho da Rocha, 16, 1º. Dto. Lisboa. (Endereço postal Caixa Postal 147, Lisboa). Funções sociais que tem desempenhado: Se por isso se entende cargos públicos, ou funções de destaque, nenhumas. Obras que tem publicado: A obra está essencialmente dispersa, por enquanto, por várias revistas e publicações ocasionais. É o seguinte o que, de livros ou folhetos, considera como válido: "35 Sonnets" (em inglês), 1918; "English Poems III" e "English Poems III" (em inglês também), 1922; livro "Mensagem", 1934, premiado pelo "Secretariado de Propaganda Nacional" na categoria Poema". O folheto "O Interregno", publicado em 1928 e constituído por uma defesa da Ditadura Militar em Portugal, deve ser considerado como não existente. Há que rever tudo isso e talvez que repudiar muito. Educação: Em virtude de, falecido seu pai em 1893, sua mãe ter casado, em 1895, em segundas núpcias, com o Comandante João Miguel Rosa, Cônsul de Portugal em Durban, Natal, foi ali educado. Ganhou o prémio Rainha Vitória de estilo inglês na Universidade do Cabo da Boa Esperança em 1903, no exame de admissão, aos 15 anos. Ideologia Política: Considera que o sistema monárquico seria o mais próprio para uma nação organicamente imperial como é Portugal. Considera, ao mesmo tempo, a Monarquia completamente inviável em Portugal. Por isso, a haver um plebiscito entre regimes, votaria, embora com pena, pela República. Conservador do estilo inglês, isto é, liberal dentro do conservantismo, e absolutamente antireaccionário. Posição religiosa: Cristão gnóstico e portanto inteiramente oposto a todas as igrejas organizadas e, sobretudo, à Igreja Católica. Fiel, por motivos que mais adiante estão implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta da Maçonaria. Posição iniciática: Iniciado, por comunicação direta de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da Ordem dos Templários de Portugal. Posição patriótica: Partidário de um nacionalismo místico, de onde seja abolida toda a infiltração católicoromana, criandose, se possível for, um sebastianismo novo que a substitua espiritualmente, se é que no catolicismo português houve alguma vez espiritualidade. Nacionalista que se guia por este lema: "Tudo pela Humanidade; nada contra a Nação". Posição social: Anticomunista e antisocialista. O mais deduzse do que vai dito acima. Resumo de estas últimas considerações: Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, GrãoMestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania. Lisboa, 30 de Março de 1935.

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